Na prática, o que os cortes no Censo 2020 significam para a elaboração de políticas públicas? Um dos maiores prejudicados pelas mudanças no levantamento será a saúde dos brasileiros. É o que afirmam pesquisadores de diferentes áreas, que se reuniram na última terça-feira (4/6), no Instituto de Comunicação e Informação em Saúde (Icict/Fiocruz), para o debate “Censo 2020 e saúde – Importância para evidências científicas e políticas públicas”, organizado pela pesquisadora Dalia Romero, do Laboratório de Informação em Saúde.
São os dados do censo demográfico que servem como base a inúmeros inquéritos, pesquisas e sistemas de avaliação e monitoramento das condições de saúde da população brasileira. Por isso, a diminuição no número de perguntas é vista por especialistas como um prejuízo incalculável à ciência e à saúde pública nacional.
O levantamento censitário é dividido em dois tipos de questionários. O chamado “Universo” é aquele aplicado a todos os domicílios. Já a “Amostra”, como o nome indica, é uma pesquisa aplicada a apenas 10% da população, e mais detalhada do que o questionário básico. Ambos os formulários sofreram cortes.
Célia Landmann, pesquisadora do Icict, lembrou que as perguntas envolvendo a emigração internacional foram totalmente excluídas no Censo 2020, o que pode comprometer estimativas de população e o monitoramento da situação de saúde dos brasileiros. “As informações sobre os movimentos migratórios são fundamentais para que possamos mapear surtos e indicadores de doenças infecciosas e contagiosas. Além disso, vivemos um momento de forte emigração de brasileiros. O país está perdendo jovens com capacidade produtiva, o que vai interferir em todos os nossos componentes demográficos. É fundamental termos informações sobre esse processo, porque ele interfere diretamente no planejamento de ações de saúde e de políticas socioeconômicas. Não consigo entender o motivo para esse corte”, lamentou a especialista, que foi coordenadora técnica da Pesquisa Nacional de Saúde (PNS), um dos mais importantes inquéritos já realizados sobre a situação de saúde e os estilos de vida da população brasileira. Um levantamento que só foi possível graças, aliás, aos dados do IBGE, Instituto Brasileiro de Estatística e Geografia, um dos parceiros da pesquisa.
“Nós epidemiologistas sabemos como é fundamental ter bons denominadores populacionais, para fazer todos os cálculos e pesquisas de que precisamos”, definiu Gulnar Azevedo, presidente da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), destacando que os efeitos do corte, porém, vão muito além do campo da epidemiologia. “Na saúde pública, se não temos uma estimativa populacional eficaz, não conseguimos planejar, saber o que vai ser feito. E não conseguimos de fato atuar nas nossas desigualdades em saúde.”
Veja o vídeo com o debate completo (Crédito: VideoSaúde/Fiocruz)
Determinações sociais
O que os cortes no censo devem afetar, afinal, é justamente a tentativa por desenhar um retrato mais nítido sobre as desigualdades no país. E a saúde, como se sabe, é uma das áreas em que o impacto das desigualdades é mais evidente.
Um dos cortes mais criticados pelos pesquisadores, por exemplo, é com relação à renda. No Censo 2020, não será mais apurada toda a renda familiar, mas só a do “chefe do domicílio”. O que, na palavra dos especialistas, deve acarretar a perda de informações cruciais para os programas de combate à pobreza. “Se só soubermos a renda do responsável pelo domicílio, não teremos como avaliar, por exemplo, a contribuição dos idosos no orçamento da família. Especialmente em lugares mais pobres, essa lacuna pode ser determinante para o avanço da miséria, já que políticas públicas são criadas tendo esse tipo de informação como base. E em casos como esses não adiantam as informações da Amostra, já que programas e políticas de atuação mais direta se amparam nos dados municipais”, explicou Dalia Romero.
Acesse Notícias do ICICT/Fiocruz para ler esta matéria completa.
Fonte: ICICT, acesso em 12/06/2019
Nenhum comentário:
Postar um comentário